Razão de Viver
Até uma andorinha sabe aonde vai

• Quem proíbe você de encontrar sua razão de viver?
• Qual seu maior desejo?
Quando jovem, juntei-me a um grupo de voluntários cristãos. Levávamos comida aos mendigos no sábado à noite.
Certa vez, aconteceu um evento inusitado. Entregamos a lancheira a um miserável que nos desafiou:
— Se você não me conhece, por que trazer comida?
— Porque nós — eu respondo — queremos ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
— Você realmente acha que trazer comida tornará o mundo um lugar melhor? Se o cara da cruz ensinou a pescar, por que você insiste em enviar peixes? — Indagou ele.
Tivemos que sucumbir à lógica do argumento. Sentei-me e cruzei as pernas para poder ouvi-lo melhor.
— Um prato de comida — ele continuou — não me faz bem porque amanhã vou estar com fome de novo. Ela está de volta, todos os dias. Alimento não é a resposta para meu problema.
De alguma forma aquilo fazia sentido.
Ele pausou e continuou:
— Se você quer me ajudar, me ensine a encontrar onde devo estar, me ensine a descobrir meu propósito na vida. Se eu não sei, tenho que me curvar a essa vida de mendicância.
Chocados, ficamos em silêncio.
— Se você sabe tudo isso, por que não conseguiu? — Minha namorada perguntou.
— Porque eu não sei ter propósito na vida, nunca soube, não sabia e não sei. A questão toda tem a ver com não saber.
Nenhum de nós respondeu, permanecemos em silêncio.
— Fui empresário — ele soltou.
— Você foi empresário? O que aconteceu? — Perguntou outro voluntário.
— Fui empresário, professor, pai, marido e amigo. Um acidente colocou minha vida de ponta cabeça, perdi toda a minha família... caí no álcool, droga, sexo e noitadas. Passou-se três anos, eu me endividei, os bancos me tomaram tudo. O que era ruim, ficou pior.
— E por que você acredita que um propósito teria ajudado?
— Nunca fui ao correio para levar uma carta sem destinatário, e jamais estive em um avião sem saber para onde estava indo. Mas na vida, ah, na vida cometi um erro fatal, a mancada de não ter ido atrás do meu propósito, de nunca haver pensado no meu desejo mais ardente.
Visivelmente lastimoso, ele fez uma pausa.
— Eu tive uma amiga que dizia ser sua mãe a razão do viver. — Ele prosseguiu. — Mas como mães não duram para sempre, quando a mãe morreu, o sentido da vida dela desapareceu, sumiu, foi embora.
Pausou e completou.
— Foi assim que cheguei a essa conclusão. Depois de muito sofrimento, eu desejei entender, e por algum motivo, o entendimento simplesmente caiu na minha cabeça dura. Hoje estou convicto que sendo você um milionário ou mendigo, não importa, se não há uma missão, um propósito, um desejo grande, somos apenas andarilhos, pois até os rios sabem encontrar o mar, as andorinhas sabem aonde ir no inverno.
— E o seu inverno chegou — eu acrescentei.
— Isso! — Concordou e continuou. — Se você não tem um grande desejo, vai a lugar nenhum, é como andar em círculos ou correr atrás do próprio rabo. Quer dar sentido à sua vida? Descubra o seu maior desejo e vá em frente!
Nesse ponto, perguntei à minha voz interna, qual seria meu maior desejo. Não objetive resposta.
— Não continue alimentando mendigos com peixes, isso não vale muito. — Ele me disse, olhando no centro dos meus olhos.
— E você não acredita na caridade? — Eu quis saber.
— Caridade?! — Protestou ele indignado. — Caridade não é levar o peixe, é ensinar a pescar, burro! — Ele levantou a voz visivelmente irritado. — Seu mestre cristão, barbudo e andarilho como eu, já não dizia isso? Você não entendeu?
— Sim, ele não fazia campanha aos pobres, ele ensinava — eu me ouvi dizendo.
— Ele os ensinava a olhar para a frente, para o futuro. Muitos foram atirados aos leões, outros caçados até a morte, mas, não perderam o propósito, não abandoaram a esperança, permaneceram olhando para o futuro, para a frente. Agora, veja o meu caso, como posso olhar adiante sendo mendigo? O que o futuro me reserva? Que esperança eu tenho?
Fiquei mudo. Não sabia o que dizer.
— Responda!!! — Ele insistiu agitado. Ninguém de nós soube o que oferecer em resposta. Permanecemos mudo.
— Isso faz sentido para você? — ele perguntou.
Nós assentimos em retorno, meneando a cabeça.
— Se você não sabe como posso ter um desejo ardente, um propósito na vida, uma missão, vá embora agora e me deixe passar fome amanhã e depois. — Ele acenou para nós com a mão em sinal de retirada.
Nós levantamos e saímos. Ele tinha razão. Sem um grande desejo, não somos mais que miseráveis andarilhos da vida. O mendigo precisava encontrar a si mesmo, pois ele não se via no futuro.
Meu nome é Max e um mendigo transformou minha maneira de olhar para a vida. Hoje sou mentor da melhora contínua, tenho um desejo ardente e uma vontade louca de estar na vida, onde quer que ela esteja, pois o maior prêmio é a experiência do desejo ardente.